domingo, 1 de abril de 2012

Na Síria, e em todo o lado, os trabalhadores devem cerrar fileiras contra o imperialismo!

*Miguel Lopes

O exército sírio retoma o controlo de Homs e Idleb. A guerra assimétrica que o império e os seus proxies abriram na Síria não descambou em guerra civil e não permitiu a criação de uma nova 'Benghazi', que iria legitimar uma invasão em grande escala, como sucedeu na Líbia.

A invasão terrestre das forças da NATO era a única forma de se consumar a ocupação. O cenário da guerra civil, mais assente no proselitismo religioso do que nas justas reivindicações democráticas, tinha pouco espaço para vingar. A maioria sunita é secular, a sua autoridade é o Grão-Mufti Sheikh Ahmad Bader Hassoun, que exige a unidade em torno das reformas do Presidente Bashar al-Assad. As figuras sunitas que apelam à revolta, Sheikh al-Qaradawi e Sheikh Adnan al-Arour, estão ligadas a correntes salafistas (minoritárias) e à Irmandade Muçulmana.

Tal como aconteceu no Afeganistão, a estratégia do império consiste em exportar as correntes religiosas mais reaccionárias, subjugadas aos clérigos sauditas e de outras monarquias árabes ditas moderadas, colaboracionistas e traidoras à causa palestiniana. Com isto pretendem destruir os últimos focos de resistência aos seus planos para a reorganização geopolítica de todo o Médio Oriente. Nesses planos não pode existir um aliado do Irão, que faça a ponte com o Hezbollah e ainda ajude a financiá-lo, assim como financia as FPLP, a resistência iraquiana, até o Hamas (que foi fundado pela Irmandade Muçulmana e optou agora por alinhar com as monarquias traidoras) e que dê apoio logístico ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão.

O ‘Concelho Nacional Sírio’ e o ‘Exército Sírio Livre’ são o projecto do imperialismo no terreno e têm que ser eliminados sem dó nem piedade. Não existe dificuldade em identificá-los pelo lábaro que carregam. Aquela bandeirola com três estrelas e tons esverdeados simboliza o que de mais reaccionário a Síria viveu: o colonialismo francês - mais tarde o colonialismo dos nazis através do Governo de Vichy -, e a destruição da República Árabe Unida. Os patetas que vão atrás desta parafernália só não coram de vergonha porque, como está implícito, são patetas e não têm noção do ridículo.


A nova Constituição

A nova Constituição, em vigor desde 27 de Fevereiro, referendada e aprovada por 89.4% dos mais de oito milhões que foram votar, testa um pilar essencial do regime - o seu carácter secular. A Constituição continua a proibir partidos de carácter religioso, tribal, regional, ou que discriminem com base no sexo, origem ou cor da pele.

Na chefia do Estado (poder executivo): os candidatos necessitam de reunir 35 assinaturas de membros do parlamento, ter mais de 40 anos e pelo menos 10 anos de residência.

Em relação ao poder legislativo: o Ba'ath perde a hegemonia, a Frente Nacional Progressista perde a quota eleitoral. As eleições legislativas foram marcadas para o dia 7 de Maio e as eleições presidenciais serão em 2014.

Quanto ao conteúdo social: a Constituição assegura a educação pública e gratuita em todos os níveis de ensino. Não defende o mesmo para a saúde, apenas que ninguém pode ficar sem cuidados de saúde por falta de apoio do Estado. O art. 23.º estabelece a emancipação da mulher como orientação constitucional.


Os que foram comidos por parvos


A violência da guerra mediática, da mentira persistente e descarada a que fomos sujeitos durante o último ano, tanto no caso líbio como no caso sírio, foram a prova de algodão que precisávamos para isolar uma série de grupelhos "de esquerda" e "progressistas", que não souberam ou não quiseram chocar de frente contra o imperialismo. Explicar esta posição com base na ingenuidade é o melhor elogio que lhes podemos fazer.

Outros grupos persistem na insuficiência dos argumentos "não-ingerencistas" e pacifistas, que se opõem ao imperialismo sem assumir o campo que o combate. Sabem que a firmeza e a clareza das posições os transformam em vítimas do seu próprio eleitoralismo.

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